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A grandeza que incomoda

Foto do escritor: Jéssica MilatoJéssica Milato

Sabe o que é foda?

Ver grandes mulheres se diminuindo para caber no mundo de homens pequenos.

É como tentar dobrar uma bandeira imensa para guardá-la em uma gaveta minúscula.

Não deveria ser assim.

Não precisa ser assim.

Mas, de algum modo perverso, o mundo parece insistir em convencer essas mulheres de que ser grandiosa é um defeito, algo que precisa ser contido, moderado, silenciado.

Vejo isso em tantas histórias que já nem sei por onde começar.

É aquela mulher brilhante que desistiu de uma promoção porque o marido reclamava que ela já “não tinha tempo suficiente para ele”.

É aquela que fala baixo nas reuniões, mesmo quando tem a melhor ideia na mesa, porque aprendeu a duras penas que, se erguer a voz, será rotulada de arrogante.

É a mãe solo que trabalha o dia inteiro, volta para casa exausta e ainda ouve que deveria “se esforçar mais” para cuidar dos filhos.

E o mais doloroso é que essas mulheres sabem que são grandes.

Lá no fundo, sabem. Mas a sociedade, os homens pequenos, os olhares enviesados, fazem um trabalho sujo e constante de convencê-las do contrário.

Pensa só: uma mulher levanta às 5 da manhã. Prepara o café, acorda as crianças, organiza mochilas, sai para trabalhar. No trânsito, já está mentalmente planejando a reunião das 10 e pensando na lista de compras do mercado. No almoço, resolve o problema da escola que ligou para avisar que o filho está com febre. À noite, depois de um dia exaustivo no trabalho, chega em casa, faz o jantar, dá banho nos pequenos, verifica as tarefas de casa e só depois, se sobrar tempo — se sobrar energia —, lembra de si mesma.

É isso que me fascina: como conseguimos?

De onde tiramos tanta força?

E, ao mesmo tempo, como o mundo insiste em não ver?

Em desmerecer, minimizar, cobrar ainda mais?

É foda ver uma mulher se dobrar, se esconder, para não incomodar quem não consegue lidar com o brilho dela.

No mundo corporativo, não é diferente. Mulheres são interrompidas, ignoradas, subestimadas. As mesmas ideias que elas colocam na mesa, quando repetidas por um homem, de repente se tornam “geniais”. Mas ali estão elas, de cabeça erguida, mesmo quando ninguém quer reconhecer o peso da carga que carregam.

E nos relacionamentos, então?

Ah, essa parte dói mais fundo. Porque é aí que a intimidade, que deveria ser um refúgio, muitas vezes se transforma numa armadilha. São mulheres diminuindo seus sonhos, aceitando menos do que merecem, encolhendo-se para não ferir o ego de parceiros inseguros.

São anos, às vezes décadas, vivendo como coadjuvantes em suas próprias histórias.

Tudo para manter uma paz que nunca foi delas.

Mas aqui está a verdade que ninguém gosta de encarar: a grandeza de uma mulher não é algo que possa ser contido.

É como tentar segurar o mar com as mãos.

Ela pode até se dobrar por um tempo, mas não vai quebrar.

Porque essa força, essa resiliência, é o que as define.

E é por isso que eu digo: parem de tentar encaixar essas mulheres em moldes que não comportam sua essência.

Elas não precisam diminuir-se para caber.

Que o mundo cresça, que os homens cresçam, que os sistemas cresçam para acompanhá-las. Porque se tem algo que aprendi é que uma mulher que abraça sua própria grandeza não apenas muda sua vida, ela transforma tudo ao seu redor.

Elas criam filhos fortes, lideram equipes com humanidade, constroem lares, carreiras, sonhos. Fazem tudo isso enquanto lutam contra as adversidades impostas por uma sociedade que insiste em não reconhecer sua capacidade.

É um milagre cotidiano, um ato de resistência que merece ser exaltado.

Então, à mulher que trabalha jornadas triplas, que sustenta sua família, que cria filhos sozinha, que luta para ser ouvida em salas de reunião ou em mesas de jantar: eu vejo você.

E eu espero que um dia você se veja também. Não encolha.

Não peça desculpas por ser grande.

O mundo precisa do seu tamanho, mesmo que ainda não saiba como lidar com ele.

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