Dói quando descobrimos a gestação e nos damos conta, quase num susto, de que não estaremos aqui para sempre. Há a alegria imensa, claro, mas também aquele incômodo sutil, a pontada de um futuro onde a vida seguirá sem nós. Dói saber que trazemos ao mundo alguém que, um dia, terá que trilhar o próprio caminho, longe do abrigo dos nossos braços.
Dói quando damos à luz e vemos aquele rostinho pela primeira vez.
Entre o milagre e o medo, há um amor que explode e um mundo que se amplia, mas que já ameaça doer de tantas formas. Porque, de repente, aquela criaturinha depende de nós em tudo, e o peso dessa responsabilidade bate fundo, tão fundo que ecoa na alma.
Dói o primeiro tombo, o primeiro joelho raspado no asfalto quente, aquele ralado que arde não só na pele, mas dentro da gente. Eles choram, e nós choramos juntos.
O coração da mãe também se esfola ali, latejando com uma dor que ninguém vê.
E vai doendo mais e mais, porque enquanto eles crescem, vêm outras quedas, tantas, e cada uma deixa uma marca.
Dói o primeiro dente de leite arrancado, aquele sorriso banguela que arranca risos, mas também avisa que o tempo corre, arrastando a infância, impiedoso, para longe. Dói na noite em que você descobre que ele já não acredita em Papai Noel. A magia some dos olhos, e, junto com ela, um pedacinho da inocência que a gente tanto quer guardar.
Dói quando aparece a primeira nota vermelha, como um alerta de que nem sempre conseguimos estar em todos os momentos, nem resolver todos os problemas. O mundo começa a pesar sobre eles, e é tão difícil explicar que a vida, muitas vezes, se mede por esses tropeços, que eles precisam existir. Mas como dói.
Dói, mais ainda, a adolescência. Ah, essa fase tão cheia de idas e vindas, de portas batidas, de respostas afiadas e de silêncios que parecem um abismo. O diálogo parece virar uma ponte precária, com cordas frágeis que a gente tenta amarrar com palavras doces, e eles vêm e cortam com uma tesoura invisível, sem sequer perceber. Dói perceber que, por mais que tentemos, não conseguimos poupar nossos filhos de suas próprias escolhas. Eles caem, eles sofrem, e tudo o que podemos fazer é estender a mão e torcer para que aceitem o apoio.
Dói quando tomam decisões que a gente não escolheria.
Quando se aproximam de pessoas que sabemos não ser o melhor para eles. Quando vemos, na expressão cansada, que estão trilhando caminhos duros, talvez desnecessários.
Mas o que é ser mãe, afinal, senão aceitar que nossos filhos precisam desses erros para crescer?
E como isso machuca.
Dói, no fundo, o simples fato de amar tanto alguém que não nos pertence. Dói saber que eles vão embora um dia. Que cada fase é uma despedida. E dói de forma ainda mais profunda reconhecer que esse é o nosso papel: preparar, deixar ir, amar incondicionalmente e, sim, sentir cada pedacinho dessa dor de ver a nossa alma caminhando pelo mundo em outro corpo.
Ser mãe dói.
Dói de um jeito que só o amor verdadeiro é capaz de doer, com uma intensidade que só cresce, sem anestesia.
É uma dor bonita, eu sei.
Uma dor que preenche, que nos lembra de que estamos vivos.
Mas é uma dor, ainda assim.
E é nossa.
Texto escrito no dia 12/11, após sentir mais uma dor em ser mãe.
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