No instante em que meu filho me enviou aquela mensagem de whatsaap, anunciando que eu seria avó, senti o mundo perder o eixo. Não havia aviso, não houve preparação.
Chorei sozinha, sentindo que nossos objetivos eram tão distantes um do outro quanto duas estradas que nunca se encontram.
Ele, esperançoso e assustado, a juventude brilhando em seus olhos de apenas 18 anos.
Eu, traída por meus próprios sonhos, os planos cuidadosamente traçados para ele se desfazendo como folhas ao vento.
Tantos projetos de vida, tantas promessas, e agora tudo parecia tão incerto… um caminho novo que eu não havia planejado, mas que ele, meu menino, teria que trilhar.
Nos dias que seguiram, convivi com aquele turbilhão de emoções que me consumia.
Eu, que sempre tivera respostas, que sempre soubera o que fazer, me vi pequena, perdida.
E então, vieram as primeiras roupinhas, e com elas, uma fresta de luz.
Quem imaginaria que pequenos pedaços de tecido poderiam carregar tanta esperança?
Ao tocar aquelas roupinhas minúsculas, sentia o calor de um futuro que começava a se desenhar de forma diferente. O rostinho que eu ainda não conhecia, mas já imaginava em cada detalhe. O cheirinho de bebê que se aninhava na minha mente e me fazia sorrir sem perceber.
Aos poucos, eu me permiti sonhar também, aceitar que a vida nem sempre segue os trilhos que escolhemos, mas que, ainda assim, ela pode ser bela.
Não demorou para que a ansiedade me dominasse.
Como seria a primeira vez que eles ouvissem o coraçãozinho no ultrassom? Esse som sagrado, o primeiro sinal de vida, a confirmação de que há algo novo pulsando no mundo.
Eu os vi entrando na sala, a nora e o filho, e desejei estar lá, invisível, apenas para testemunhar o brilho nos olhos deles, a emoção que certamente os tomaria ao ouvir aquele som ritmado, anunciando uma nova vida.
Mas ao vê-los voltar, percebi que algo não estava certo. O sorriso que eu esperava em seus rostos estava ausente, como se as palavras tivessem ficado presas em algum lugar entre a sala de ultrassom e a porta de entrada. O peso que eles carregavam nos ombros era tão visível que apertou meu peito. Tentei, por um momento, acreditar que era apenas um mal-entendido, algo simples de resolver.
Mas os olhos vazios de meu filho e as lágrimas silenciosas de minha nora contavam uma história diferente.
Foi então que soube. O bebê não existia.
Aquele coração que esperávamos ouvir, nunca bateria. Uma gestação molar, disseram os médicos. Nunca havia ouvido esse termo antes, nem imaginava que algo assim pudesse acontecer. Era como se tivessem tirado o chão debaixo dos meus pés novamente. Havia toda aquela esperança, o desejo inserido de ser avó, de ver meu filho se transformar em pai, e agora tudo se desmanchava como um castelo de areia levado pela maré.
Era um vazio que doía, que me cortava por dentro, e que, ainda assim, não sabia como preencher.
Sentimentos conflitantes me dominavam.
Eu estava triste, devastada pela dor deles, pelo luto silencioso que agora habitava em nossa casa. Mas também havia uma pequena parte de mim, que, com culpa, sentia uma estranha forma de alívio. Não por querer evitar aquela criança, longe disso. Mas talvez porque, em minha fé, eu acreditasse que Deus estava nos dando uma chance de começar de novo.
Uma chance de fazer diferente. Ele, meu menino, tem apenas 18 anos. Ela, tão jovem, com apenas 16. Talvez não estivessem prontos, talvez fosse cedo demais para que a vida lhes cobrasse uma responsabilidade tão grande.
E então, me vi em um dilema.
Como consolar sem parecer insensível? Como mostrar que, apesar da dor, havia uma nova oportunidade à frente?
Era como caminhar sobre um campo minado, cada palavra carregando o risco de ferir ainda mais. Eu quis dizer que Deus sabe o que faz, que tudo tem seu tempo. Mas ao olhar para aqueles dois, abraçados em seu luto, não me atrevi a falar. Só me permiti estar presente, em silêncio, deixando que eles soubessem que, apesar de tudo, eu estava ali, com o coração tão cheio de dor quanto o deles, mas também com a esperança de que, um dia, tudo faria sentido.
Aos poucos, o tempo começará a curar as feridas.
A vida, com sua força silenciosa, os levará a novos caminhos, diferentes dos que eles imaginavam, diferentes dos que eu mesma havia planejado.
Talvez, um dia, eu ainda seja avó. Talvez esse dia demore até ambos estarem maduros, preparados e estáveis. Mas agora, mais do que nunca, entendo que a vida é cheia de voltas, de surpresas, e que cabe a nós encontrarmos a beleza em cada curva.
E quando aquele momento chegar, quando eu finalmente puder embalar meu neto nos braços, sei que tudo terá valido a pena.
Mesmo as lágrimas, mesmo a dor.
Porque, no fim, a vida sempre encontra uma maneira de renascer.
Recebi a mensagem que seria avó no dia 12/09/2024 e descobrimos a gravidez molar no dia 08/10/2024.
Minha nora teve que realizar uma curetagem no dia 09/10/2024 e realizou o implante do Implanon, visto que uma gestação no período de 12 meses deve ser evitada.
Este texto foi escrito a pedido da Camila Silva, minha psicóloga.
Crônica das mais profundas e tristes que já li escritas por você...chorei.