Sim, esta crônica será sobre morango.
Não se espante, caro leitor. É que aqui em casa, essa fruta ganhou um significado que vai além do gosto adocicado ou da promessa de sobremesas caprichadas.
Tudo começou com a minha filha, Bianca, que, com a sagacidade de quem observa o mundo com olhos atentos e língua afiada, soltou uma frase que ficou:
“Tá pensando que a vida é um morango?”
A gente ri, claro, mas se você parar para pensar, a vida é mesmo um morango. A gente cresce imaginando a fruta graúda, vermelha, brilhante, daquelas que parecem saídas de uma propaganda de gelatina. Mas a realidade é que, muitas vezes, a gente se depara com o morango verde: duro, ácido e teimoso.
Tem dias em que tudo que queremos é um gosto doce, e a vida insiste em entregar só a promessa dele.
E o que dizer dos morangos amassados?
Aqueles que ficam no fundo da caixa, esmagados sob o peso dos maiores, que enchem os olhos e enganam o cliente. A vida também é cheia de ilusões assim. A gente olha de fora e pensa: “Que perfeição!” Mas quando mergulha mais fundo, percebe que há imperfeições escondidas.
Não é culpa do morango; ele também carrega suas batalhas, seus apertos. Assim como a gente.
E o mofo?
Ah, o mofo é aquele golpe silencioso, que toma conta quando menos esperamos. É o rancor que a gente esquece de tirar, a mágoa guardada, a oportunidade que deixamos passar e ficou ali, envelhecendo em nós. Às vezes, o mofo é tão pequeno que só percebemos quando já contaminou o resto da caixa.
O morango é assim: real, nu, cru.
E foi nesse paralelo, entre as doçuras e asperezas da vida, que surgiu a ideia para essas crônicas que escrevo. Histórias que exploram o lado verde do morango, o lado amassado, o lado mofado – porque é ali que a vida acontece de verdade.
Nem sempre o fruto é perfeito, mas ainda é morango. Ainda carrega em si o potencial para o doce, mesmo que precise de açúcar ou paciência para amadurecer.
Por isso, decidi chamar esse conjunto de histórias de Morango Verde.
É um título que, para mim, simboliza não só a vida como ela é, mas também o aprendizado de aceitá-la assim: imperfeita, mas cheia de possibilidades. Porque, no fim das contas, é isso que somos – frutos ainda amadurecendo, com nossas marcas, nossas quedas e nosso próprio jeito de florescer.
Então, se você chegou até aqui, saiba que esta crônica é um convite. Um convite para olhar para os seus morangos com outros olhos, para encontrar beleza até no que parece estragado, para rir das azedices e, quem sabe, colher um pouco de doçura onde menos espera.
Porque, afinal, quem disse que a vida não pode ser um morango?
Mesmo verde, ela ainda vale cada mordida.
A ideia deste projeto veio após mais uma das conversas que tenho com a Bilili e mais uma das suas frases adolescentes...
Então, em breve teremos um livro com o azedinho do morango – verde.
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