Estou respondendo um whatsapp enquanto tomo um gole de café que já esfriou.
O telefone vibra com uma mensagem urgente.
No canto da tela, um lembrete me avisa da reunião que começa em cinco minutos.
Penso na pilha de tarefas acumuladas e lembro que ainda não comi.
Meu estômago reclama, mas quem tem tempo para ouvir o próprio corpo quando o mundo lá fora grita mais alto?
É sempre assim.
Um ritmo que não dá trégua, uma maratona sem linha de chegada.
O pior é que eu gosto do meu trabalho. Amo o que faço, amo tanto que nem percebo quando ele começa a me engolir.
E talvez seja isso o mais perigoso: confundir amor com obrigação, paixão com prisão.
Ser workaholic não é só trabalhar muito. É carregar a culpa de parar, a ansiedade de pausar, o peso de sentir que o tempo é sempre insuficiente.
Porque quando você é consumido por esse ritmo, até respirar parece improdutivo. Uma folga vira luxo, um sintoma de doença se transforma em inconveniência, e compromissos pessoais são encaixados como um malabarista equilibra pratos em hastes instáveis.
Dias atrás, acordei com mal-estar.
O corpo dava sinais claros de que precisava de repouso. Mas ali estava eu, sentada em frente a minha tela. Porque, na minha cabeça, parar seria como abandonar o navio no meio de uma tempestade.
Ninguém me disse isso diretamente, mas eu internalizei essa ideia: se eu não estiver disponível, algo vai desmoronar.
O problema é que o que desmorona não é o trabalho — é você.
Burnout não chega de repente. Ele se arrasta, silencioso, enquanto você tenta dar conta de tudo.
Primeiro, vem o cansaço que não passa. Depois, a irritação com coisas pequenas, a insônia, a sensação de que qualquer novo pedido é uma gota a mais num balde já transbordando.
O brilho que você tinha no olhar ao falar sobre o que ama, vai apagando aos poucos.
Um dia, você percebe que está se arrastando, mas não sabe mais como parar.
E, no fundo, eu sei que isso é um reflexo da sociedade em que vivemos.
Trabalho virou sinônimo de valor pessoal. Quanto mais você produz, mais parece merecer existir.
Quantas vezes não ouvi alguém dizer, quase com orgulho, que não tinha tempo para nada, como se estar sobrecarregado fosse uma medalha de honra?
Mas a verdade é que isso não é sustentável.
Nem humano.
O corpo cobra, a mente cobra.
Chega um ponto em que até o que você ama começa a te sufocar.
E o que ninguém te conta é que o mundo não vai parar porque você parou.
Aquele trabalho vai acontecer com ou sem você. O e-mail urgente pode ser resolvido por outra pessoa, ou, quem sabe, nem era tão urgente assim.
O difícil é convencer a si mesmo disso.
É permitir-se desacelerar sem sentir que está falhando.
Porque o descanso não é opcional. Ele não é um prêmio para quem “merece”; é uma necessidade.
Hoje, enquanto escrevo isso, estou tentando praticar o que prego.
Coloquei o telefone no modo silencioso. Fechei a aba dos e-mails.
Por meia hora, quero existir sem ser interrompida, sem ser produtiva.
E sabe de uma coisa? O mundo não caiu.
Eu ainda amo meu trabalho, mas estou aprendendo a amar mais a mim mesmo.
Porque, no fim, somos a nossa principal tarefa.
Se não cuidarmos de quem somos, não haverá paixão, meta ou deadline que valha a pena.
E, aos poucos, estou descobrindo que pausar não é desistir. É, na verdade, a maior prova de que estou comprometida com aquilo que realmente importa: a vida que acontece além das telas, além das reuniões e além do relógio.
Texto escrito após sentir culpa de estar exausta.
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